O Oceano da Alma

Existem inúmeras correntes filosóficas, que podemos incluir religiões, doutrinas e saberes, que nos conduzem por diferentes caminhos para alcançar a realização espiritual.  Todas afirmam condutas, sentimentos que "devemos" perseguir para nos livrar de angústias, ansiedades e medos. Esse é um tempo que mais tem se falado de emoções que nos afastam da paz de espírito que gostaríamos de alcançar para ter alguma trégua nesta vida tão acelerada. Medicamentos, sistemas, exclusões, são receitadas por muitos que dizem ter alcançado o sonhado bem estar. 

Eu procurei por essas receitas, experimentei diferentes métodos e agradeço a vida por chegar onde cheguei e ver que a negação foi o  maior obstáculo. Constatar que "eu" fui o maior obstáculo não facilitou o caminho. Saber o que era certo, também não. Apenas a experiência é capaz de fazer a diferença, apenas a entrega  dissolve os véus que antes pareciam estar me defendendo das ameaças da vida. 

Neste momento abre-se novamente o portal, entrar por ele ou não, depende de coragem. Nada garante o que vamos encontrar, no entanto são nestes momentos que podemos discernir entre o falso e verdadeiro. Qual a corrente que liberta e qual a que nos aprisiona.

Apenas os sábios nos preparam para esse momento. Apenas os sábios dizem que é preciso ter coragem e não virtudes para seguir em frente e não temer o que lhe aguarda. 

É como um  rio que seguiu seu curso e chegou ao oceano. Ele pode fingir que nada existiu, continuar buscando correntes e negar o oceano? Ele pode se isolar e continuar afirmando que o seu caminho é o melhor e mais confiável para chegar onde ele está?

Parece engraçado dizer que o ciclo prossegue mesmo para os que descobriram que o oceano sempre esteve dentro de si, desde o primeiro momento do percurso.  Não basta sentir que alcançamos a vastidão da alma e que sabemos que tudo está dentro porque imediatamente tudo muda. É um ciclo sem fim de perder-se para encontrar, porque a cada momento em consciência, encontramos algo que nos parece novo, que nos faz sentir pleno. 

Mas porque essa jornada não tem fim? Porque precisamos perder tudo novamente,  para encontrar?

Ouso afirmar que a alma não cabe dentro do Eu. E que perceber não é o mesmo que ser.

Ser é encontrar-se com o Não Ser, é reconhecer que o mistério só muda de nome. Para o "eu", o "outro" dá sentido ao movimento. Mesmo se for um obstáculo, o "outro" vai participar ativamente de todo o percurso da vida daquele que procura a realização, por mais elevada que seja. 

E para o "Ser" que  transcendeu a linha que o separa do outro, que percebe a perfeição do cosmo que une tudo em um grande evento que chamamos de vida? 

Percebeu que poucos dos que estão guiando conhecem essa realidade?  Porque não chegaram a transcendência do ego. São cegos guiando cegos. Eles dizem, venham a mim, façam o que faço mas jamais alguém poderá ser tornar como eles. O ego, a miséria da negação, da separação, da morte, não é  algo que se supera trocando as vestes. Ele é a própria veste que foi trocada. 

Então o que podemos fazer para acordar e sair das armadilhas do ego?

Observar sem julgamento ao que é observado!

Se ao menos experimentarmos que não somos o ego e que, por conta desta identificação estamos dormindo é um passo em direção à plenitude.

Se experimentarmos a espiritualidade como a verdade que norteia a vida, é outro passo.

Existem memórias que aprisionam, mas há uma que liberta. Precisamos lembrar do Osho que afirmou e reafirmou que não  é o conhecimento que desperta a consciência. A experiência de Ser é consciência . 

Essa sim, é quem nos revela o oceano da alma. O tempo para, tudo fica claro. 

É a memória que importa, pois quando o ciclo oceânico recomeça não podemos esquecer que não somos a experiência, o movimento, mas quem está lá, o Ser. Aquele quem observa é quem continua expandir em consciência. 

Doa a quem doer. Sofre com isso é opcional. 


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